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About edgard

Doutor em ciências da saúde pela USP São Paulo. Intensivista e homeopata de formação com uma visão holística busca a saúde de seus pacientes de forma suave e permanente.

Dei resultado, fui demitida e esqueceram de mim. O problema dos controles históricos.

1) Dei resultado…

Laura foi contratada para fazer auditoria numa empresa de planos de saúde. Empolgada com o desafio contava ainda com o apoio do conselho que acenava com a possibilidade de crescimento na empresa com o bom desempenho. Trabalhava 12 h por dia. Estruturou uma equipe motivada. Não tardaram a vir os resultados já no primeiro ano. Resultados estes que provocaram mudanças profundas na hierarquia da empresa, liderada pelo conselho.

2) Fui demitida…

As mudanças no organograma deveriam atender a necessidade eminente. Escolheram o diretor de um dos hospitais outrora sob auditoria para execução da tarefa de diretor presidente. Laura, por ser jovem e ainda ter pouco tempo na empresa, ficou subordinada a uma antiga gerente que passou a responder ao diretor presidente. O conselho decidiu pelo próprio isolamento e delegou a maioria de suas atribuições, como preferiam dizer… Foi como colocar um bom policial na mesma cela que seu outrora, refém. Laura não durou mais 1 ano, depois de subordinada a quatro chefias diferentes, foi demitida.

3) Esqueceram de mim…

Não fosse o mal estar e transtorno na vida de Laura, pois estas demissões costumam cursar com “outputs” paranóides de menos valia subentrantes, ela ainda alimentava a esperança que um dia iriam valorizar seu trabalho.

Assumiu um substituto. Uma figura apática, sem a costumeira liderança da auditora anterior. Um ano se passou e foram averiguar os resultados do novo estilo na administração. Surpresa geral entre os funcionários subalternos que simpatizavam com a Dra Laura. Os resultados não mudaram, não foram ruins… Com a vantagem “marketiada” pelo sucessor que a estrutura foi enxugada, logo fazendo mais por menos… Um verdadeiro milagre! E o brasileiro, como bom cristão que é, está sempre flertando com um…

Partindo do pressuposto que não houve corrupção dos dados advogo que existem problemas básicos muito freqüentes na avaliação do trabalho nas empresas:

a)      Não definição prévia ou pobre definição dos objetivos como: baixar os custos com internações. Que tipo de internação ou que tipo de custo?

b)      Baixo controle de variáveis basais fundamentais na avaliação do confundi mento dos resultados, são elas: idade, sexo, intervenções concomitantes, gravidade, tipo de plano médico, renda familiar…

c)      Análise da intervenção/ equipe como desfecho/ resultado – observado na arrogante declaração de que fizeram mais gastando menos. O menor gasto com a equipe seria um resultado melhor? Não. Estão falando da intervenção! E quanto aos custos da internação?

d)      Utilização do desfecho – custo da internação – como uma medida de impacto setorial. Este desfecho só pode ser analisado na empresa como um todo, o que implicaria no controle de muitas outras variáveis preditoras, capazes de influenciar neste resultado.

e)      E finalmente a utilização de controles históricos, os resultados da Dra Laura, na comparação com a nova administração ou intervenção.

Controle é o conteúdo da análise que recebe a não intervenção ou a intervenção antiga, referência para comparação com a nova. Análises sem controles tem um grande potencial para resultados distorcidos, especialmente em mãos de pessoas que realizam mudanças que acreditam ser benéficas ou desejam comprovar sua competência em detrimento da dos demais. O controle deve diferenciar apenas quanto à intervenção. Eis aí o grande problema com relação ao estabelecimento de controles históricos, aqueles ocorridos anteriormente. Há duas áreas de grande incompatibilidade com relação a este desenho de análise, meio e sujeitos, dentre outras:

a)      Comparação em ambientes – locais diferentes – inviabiliza a análise. Pela diversidade, complexidade e distinção observada.

b)      Não há normalmente um critério seguro na inclusão dos sujeitos em controles históricos, logo não se sabe ao certo em cima de que tipo de paciente aquele resultado, da Dra Laura foi obtido. Os pacientes submetidos às duas intervenções podem ser muito diferentes com relação a vários aspectos.

c)      Fatores prognósticos, outras variáveis, só podem ser ajustados na seleção dos grupos controle e não controle. E com controles históricos este momento já passou.

d)     A qualidade de registros é normalmente muito ruim, faltando dados e com dados sujeitos a interpretações diferentes. Redução de custo médio, custo hospitalar ou média de permanência das internações?

e)      O número de desfechos em controles históricos é normalmente bem menor o que pode enviesar o resultado em favor da nova intervenção.

f)       A exclusão de sujeitos na nova intervenção é normalmente maior, selecionando um grupo mais susceptível a intervenção apresentando com isso respostas melhores.

g)      Há uma tendência de melhora com relação ao tempo, por uma série de pequenos ajustes nos processos, logo conquistas anteriores podem contaminar resultados futuros.

h)      Métodos estatísticos não corrigem desenhos ruins!

Com isso o resultado tende sempre a exagerar o valor da nova intervenção para melhor! Confundindo mais que clareando problemas, devendo ser evitado.

É claro que a incompetência reinou, Laura foi esquecida…

Dezesseis anos se passaram… Laura construiu seu próprio negócio e com ele pode levar uma vida confortável…

Quanto à empresa de plano de saúde… Bem esta depois de trocar de presidente quinze vezes nos últimos dezesseis anos, foi vendida para sua principal concorrente, depois de perder 2/3 de seu valor na bolsa de valores.

Laura continuou esquecida.

Meu chefe não faz nada e ainda ganha mais que eu! A variável de confusão.

Recebi esta carta por email, com um pedido de ajuda e aqui resumo alguns pontos desta conversa. Obviamente os nomes aqui tratados são fictícios para evitar problemas…

Meu nome é Marcos Ambrósio tenho 29 anos, trabalho com TI, desenvolvendo sistemas para uma empresa especializada em CRM (Customer Relationship Management). Em outras palavras sou eu que faço estes sistemas via internet que conversam com o cliente e criam um banco de dados que orientam no desenvolvimento de novos produtos.

Meu chefe tem 40 anos – chamemos de Dorival Junior – fez informática em algum lugar do passado, não sabe nada e ganha todos os louros do meu trabalho. O cara chega as 10:00 h da manhã no escritório, almoça do meio dia as três, pega o material comigo para reunião das quatro com a diretoria e as 18:00 h vai para casa. Sempre dando carona para alguma funcionária, geralmente as mais bonitas é claro…

Marcos? Só me tire uma dúvida? Ele não deu carona para nenhuma namorada sua nem nenhum pretenso romance, deu?

– Não.

– Ainda bem. Vamos lá então:

– Como vai a empresa que você trabalha?

– Muito bem, vem fechando muitos contratos.

– Como é este mercado?

– Muito competitivo.

– Existem muitos cursos que preparam especialistas como você?

– Sim, mas sou da opinião que quem faz o especialista é o aluno.

– Sei… As empresas concorrentes tem gente boa, como você, trabalhando pra eles?

– Sim e já até mandei currículo para alguns amigos meus por lá…

– Ok. Marcos, não tenho uma boa notícia para você… Seu chefe é o cara!

Imagine que estamos testando dois grupos, comum numa concorrência, certo? Como você mesmo disse, mais ou menos homogêneos, com equipes de especialistas afiadas, o que provavelmente não diferenciará muito os produtos, correto? Tecnologia de ponta em ambas as ferramentas, com uma inspiração a mais aqui outra ali… Eis que surge Dorival! A variável de confusão.

A variável de confusão é aquela capaz de influenciar o resultado sem estar na linha de frente, sem ser o produto oferecido. Confundindo a associação entre o Ambrósio, o sujeito que desenvolveu o sistema e o desfecho, a assinatura do contrato. Faz você pensar Marcos, que com sua expertise foi o responsável sozinho pelo resultado, mas não foi… Ele, o Junior, não pertence ao projeto exposto para o futuro cliente, corre por fora. Sua existência é elementar e deflagra a ação do Dorival. Ele é independente de você, ele é seu chefe, mas por mero capricho da hierarquia, as empresas não são comunistas. Afinal ele ganha mais que você. Por si só não é capaz de vencer a disputa, não é o produto, não está na linha causal, no processo que será avaliado para a decisão, o desfecho do contrato. Não faz parte obrigatória da licitação. Mas sabe como influenciar o resultado. Dorival Junior é o cara! Aquele que pode mudar a direção do negócio superestimar ou subestimá-lo. Fechar um acordo por um ano ou dois ao invés dos seis meses habituais. Conseguir exclusividade. Melar a licitação. Ou até mesmo garantir um bônus por desempenho para sua empresa. Não é meramente um intermediário entre o software de CRM e a assinatura do contrato. Tem vida própria. É o simpático, o amigo, o conselheiro, o sócio, o amante e até o “homem da mala”… O CEO (Diretor Presidente), o coloca ou o afasta do processo dependendo das circunstâncias… Seu poder geralmente não é conhecido, nem mesmo pelos funcionários da própria empresa. Por isso mesmo que quem leva sempre a culpa oficial pela perda de um negócio são os Ambrósios da vida… Para associar sua atuação com os resultados é necessário conhecer todos os elementos ou variáveis basais, aquelas que participam direta ou indiretamente do processo licitatório. E nem sempre isto é possível. Resultados muito drásticos/ significativos para um lado ou para o outro, merecem a suspeição da presença da variável de confusão. Ou os Dorivais de plantão…

A vida “fácil” do seu chefe resume-se em longos almoços, para aproximar pessoas. São estas aproximações que alavancam negócios, isto é marketing de relacionamento! Dorival Junior foi esculpido na escola da vida, destas histórias que reserva vaga para poucos… Caronas para funcionários? Conscientes ou não são informantes internos da empresa que suprem suas longas ausências. E aqui entre nós, chegar as 10:00h depois de um bom café da manhã com as mais bonitas, é bom demais! Afinal ninguém é de ferro…

Abraço e boa sorte, Edgard.

A licitação do Bolão. O problema de avaliar pela média.

As licitações resolvem os problemas de custos das empresas? Como funcionam licitações em empresas que detêm o monopólio do mercado? O único ou o grande empregador consegue obter o melhor resultado com esta prática?

Bolão era o dono do supermercado em uma cidadezinha do interior. Rei do pedaço, seu poder só se equivalia ao dono da fazenda local, Dr Armando, que mal ficava na cidade tamanha eram as condições insalubres de Piscinópolis. Era também o maior empregador local, o único fiador e filantropo daquela problemática região a qual obviamente já havia sido até prefeito. Ostentava ainda o título de morador mais rico, o que lhe incomodava, afinal como podia ter tanto e sobrar tão pouco? Comparado aos magnatas da cidade vizinha era um pobretão…

Não diferentemente de Piscinópolis se comportam alguns mercados neste país. Governo, seguradoras de saúde, empresas de cimento, sindicatos e alguns setores de bebida e alimentação saem da condição de “empresa” para “mercado” quando por seu gigantismo passam a ser o alvo único ou principal de diversas empresas menores. Sem as características peculiares que regem um mercado livre como autonomia e flexibilidade, aquilo que definem passam a valer para todas as outras empresas do setor, impõem suas condições aos seus fornecedores, não sabem negociar, só barganhar e o que parecia ser uma vantagem competitiva transforma-se no “piscinão do bolão”…

A decisão estava tomada. Vamos baixar os custos da empresa! A saída para evitar os corruptos e alcoviteiros é uma licitação clara e transparente. O alvoroço foi tremendo! A faxina também… A redução de gastos com serviços terceirizados no primeiro semestre chegou a quase 50%. Condições mínimas curriculares e decisão pelo menor preço, obviamente fizeram parte do pacote licitatório. O supermercado contratou uma empresa acostumada com este tipo de concorrência para tocar o projeto e como não dispunha de muita grana negociou um percentual da provável redução dos custos como pagamento à contratada.

Objetivos atingidos. Um ano depois veio a ressaca… Os problemas aumentaram! Reclamações de clientes e prejuízo financeiro basicamente. O pouco lucro que ainda dispunha evaporou! E pasmem… Qual foi a solução ensaiada pelos contratados? Nova licitação!

Dominado por um segundo de iluminação, Bolão esbravejou:

– Chega! E decidiu ele mesmo ver o que estava acontecendo:

1)                            Primeiramente identificou que as pessoas que lhe prestavam os serviços licitados permaneciam as mesmas, logo não parecia ser um problema de pessoal, até a quantidade era adequada.

2)                            Seu único, por assim dizer, possível concorrente, não havia crescido no período de forma significante, logo não parecia ter perdido mercado. As pessoas ainda compravam o mais barato.

3)                            Os custos com os serviços licitados estava realmente menor.

Então qual era o problema? Como que uma empresa que dava um discreto lucro, depois de ter passado por um processo longo e desgastante que foi aquela licitação, estava dando prejuízo? E de pergunta em pergunta foi descobrindo:

Os custos com os serviços, não licitados, ligados a toda e poderosa fazenda do Dr Armando que gozava de uma quase exclusividade duplicou.

Os responsáveis são os auditores! Gritou Bolão! Como foram deixar passar isso e aquilo… Foi quando uma funcionária recém contratada da cidade vizinha lhe disse:

1) – Também… Licitar empresas que vão fiscalizar outras não licitadas dá nisso!

A obviedade assustadora da colocação sapecou um grande silêncio e conseqüente reflexão em Bolão… Percebeu ainda que:

2) A licitação havia mantido os serviços minimamente, mas acabado com a gestão que as mesmas empresas faziam anteriormente.

Desmotivados os mesmos, mas “novos” colaboradores não queriam mais se indispor com os “Armandistas”, partidários da fazenda do Armando. Perderam a crença em resultados, outrora obtidos em empresas que perderam a disputa. Se cansaram de limitar a insaciável gula por “direitos” dos clientes do supermercado e de questionar suas chefias diretas. Estava tudo certo… Estava tudo errado. Os colaboradores eleitos pela licitação descobriram que flertar com o pessoal da fazenda poderia ser a solução. Novas oportunidades e quiçá, receita adicional…Na verdade estas empresas haviam aceitado os valores impostos pelo supermercado apenas para não perderem o cliente, o emprego… Os funcionários eram os mesmos! Haviam migrado para as empresas concorrentes vencedoras da licitação. É muito difícil dizer não para um cliente que é o mercado. As empresas escolhidas passaram a ser meramente uma empresa de recolocação de pessoal, a ordem era prestar os serviços contratados com todas as exigências da renovação que não eram poucas:

3) Eram tantas exigências, detalhes nos contratos firmados que os contratos perderam a pegada, o foco no resultado. O medo de que essas empresas eleitas não cumprissem o contrato, dominou o negócio.

4) A decisão que norteou a maioria das licitações, foi um “equilíbrio” uma média, entre o menor preço e o melhor serviço.

Aquelas empresas consideradas Premium, algumas que recuperavam uma quantia significativa de dinheiro para o supermercado, foram classificadas como empresa A. B para as mediana e C para as insignificantes. Este critério qualitativo não contemplava a quantidade de dinheiro recuperada pelas empresas. Escolhida a empresa B na licitação por ter um preço menor que a A e ter uma classificação razoável, não representava a real diferença de resultados entre A e B. A escolha de parceiros médios, misturando conceitos qualitativos com quantitativos traria resultados no máximo medianos. E na mediana os valores extremos não interferem na média. Os piores, mas também os melhores resultados são naturalmente excluídos. Decisões ponderadas baseadas na opinião média não trazem resultados significativos, mantém o status de “isenção” dos funcionários do supermercado, mantendo o equilíbrio de forças interno, e o desequilíbrio nas contas…

Dois meses passaram…Bolão colocou a recém contratada como CEO do supermercado, passou a fazer contratações baseadas em resultados e performance, perdeu 20 kilos e enfim pode gozar de férias…

O empresário placebo

Estamos todos obsessivamente em busca da verdade, funciona mesmo ou não, dá resultado ou não dá resultado, é bom ou não é… Enquanto desviamos nosso olhar para a pureza destas respostas, a evidência, nós deixamos de ver o óbvio. Exemplificando recentemente Stallone, o astro de Hollywood, entre gravações de seu último longa metragem numa floresta brasileira, ao ser advertido pelo IBAMA pelo barulho produzido nas filmagens, prejudicando então os macacos residentes, indagou: que macacos? O fato é estarrecedor, pois embora não os visse dentre as árvores, a falta da evidência, a fez crer que não existissem… Que me perdoe Descartes em sua célebre frase “penso, logo existo”, mas apropriadamente neste caso: se não vejo, penso que não existe…

Mauro podia ser um destes macacos que Stallone não viu, um brasileiro formado em Oxford, desfilava um currículo invejável: MD, PhD, CEO e VIP voltava ao Brasil. Rapidamente requisitado por empresas, ministrava palestras. Terno impecável e dono de uma requintada sistemática debulhava generosamente sua cartilha para ouvintes que imediatamente respondiam com muita emoção. Os resultados positivos de Mauro para as empresas eram observados imediatamente: melhora no ambiente organizacional, aumento de produtividade e conseqüente lucro financeiro.

Estava tudo indo muito bem até que a assessoria de imprensa de uma das empresas clientes de Mauro disse: esse cara é placebo! Placebo tecnicamente falando é um termo usado para expressar um efeito positivo oriundo de uma “falsa” intervenção. Sem, seu princípio ativo, a substância, o “conhecimento verdadeiro nuclear”, conteúdo ou centro, estas intervenções transformam pelo que está ao redor delas, a casca, seus contextos e suas circunstâncias. Agem por mecanismos de ação que agora a ciência vem revelar:

1)                            Expectativa: é o principal mecanismo de ação destas intervenções. Palestrante famoso, com títulos no exterior, reforçado pela aparência impecável, ambiente suntuoso e atitude generosa deixava os ouvintes excitados com a possibilidade de encontrarem ali a solução para seus problemas, antes mesmo de ouvir o que tinha a dizer.

2)                            Condicionamento: a sistemática requintada que propunha a seus ouvintes requeria esforço e dedicação. O ritual criado para que fosse repetido sempre ao chegar ao escritório tinha a força de uma oração. Relembrava as pessoas de seus objetivos cotidianamente moldando as suas atitudes ao longo do dia.

3)                            Motivação: falar ao coração das pessoas dava mais motivos, energia, àqueles que arduamente garimpavam uma oportunidade. Sem abandonar a razão, esta residia na boa explicação que encontrava, em sua imaginação, para fenômenos comuns. Reforçada ainda pela constante busca por significado ou propósito que retirava de fatos considerado por muitos aleatórios… Tudo isso, conspirava em direção a premiação final… “O topo, o céu”.

Valendo-se da evolução natural creadora e multipartidária que a vida possui, atribuía seu resultado positivo humildemente a Deus. A despeito desta ou daquela empresa mais sisuda ou crítica em busca de um “DNA da verdade”, 50% de resultados positivos não eram de se jogar fora… Desta forma nosso palestrante paulatinamente conquistou simpatizantes, arrebanhou adeptos e criou súditos até constituir a Igreja Universal PARATODOS e se tornar, o pastor Mauro.

P.S.: Stallone continuou sem encontrar evidências de sua existência…

O Tempo e o Vento

Este ano aprendi algumas coisas sobre a natureza e com vocês desejo compartilhar este sentimento. O Tempo é vida e o Vento também, mas nascimento e morte, isso é coisa do vento… Do Tempo, vem essa mania de ser primeiro, como o “chincheiro” que com o pó chama o Vento. Este, sem pressa, como que acometido pelo acaso, executa a ópera no bravo com problema de escuta, que como uma puta vende sua história ao capricho do Tempo. O tempo obedece, o vento rompe, o tempo engana, o vento clama, o Tempo é óbvio, o outro desengana. Um cansa o outro espanta, cria, evolui e submete. Revela-se na dor e no autoconhecimento… um sinalizador. O Tempo é entretenimento, a paixão, os colegas e a moral. O Vento é o costume, a disciplina e o desigual, o amor profundo, amizade madura que perdura… O tempo quer… O Vento é… O Vento persiste, o Tempo insiste, ilude e mente. É o poder, a massa que engorda, a vaidade que enrola. O outro como a bigorna, transforma. Um passa o outro fica e ao que tudo indica não está na necessidade, mas confiança. O Vento é pai, mãe e irmãos e antes de tudo isso a sua vocação e talento, a contribuição ao espaço, a solidez do mormaço. E fique esperto, pois também é a doença, a trajédia e a cura, como a água mais pura, o Vento é “Deus”… E o Tempo, ah o Tempo… Ao contrário do Vento que é movimento só distrai…

O viés de observação e as tragédias de Joões e Marias

Em reportagens recentes vimos que tanto no buraco promovido pelas obras do metrô em São Paulo sugando veículos e abalando casas quanto as “chuvas” que em Niterói, no Rio de Janeiro, derrubaram barracos na favela do Bumba, provocaram reações diversas e curiosas nas vítimas. Umas correram para salvar vidas, outras documentos pessoais e vejam só vocês, há aquelas que se arriscam para salvar panelas e calcinhas… Sim senhores, calcinhas! Estive refletindo sobre isso e percebi que de forma similar os itens de segurança de um carro são menos valiosos do que acessórios de conforto na hora da venda. Mais gente gasta com cabeleireiros que com consultas médicas, seguro de vida ou planos de saúde. E apesar da multiplicidade de razões para isso, uma parece ser central… O viés!

Maria, 35 anos moradora de classe média teve seu “ap” rachado pelas obras do metrô. Seu João, 65, morador da favela, viu seu barraco escorregar morro abaixo sentado num bar durante uma enxurrada. O que em comum tem estas duas tragédias?

Maria, contadora dirigia uma pequena empresa própria, trabalhava 14h por dia e no final do mês “rebolava” pra pagar as prestações de seu carro zero. João, auxiliar de enfermagem aposentado, levava uma vida tranqüila e pacata dividindo seu tempo entre o bar do Pepe e os “churrascos de gato” que a vizinhança promovia. Ambos foram entrevistados logo após as tragédias com a seguintes perguntas: Qual a responsabilidade do governo nesta tragédia? E agora?

Maria disse que processaria o governo do estado, pois tinha o direito de entrar na casa para retirar seu carro ainda não quitado. João pediu ajuda de Deus e da prefeitura para conseguirem retirar os companheiros debaixo dos escombros.

Eis o primeiro viés, na informação. Um repórter, entrevistador, se quer se aproximar da verdade não pode propor suas suspeitas na pergunta, pois isto sugestiona os entrevistados como no caso de Maria. É como colocar o veredicto antes da acusação, o óbvio atrapalha a verdade.

Curiosamente nenhum dos dois se quer citou ou temeu pela perda de sua moradia naquele primeiro momento. Parecia ser, o carro para Maria e seus vizinhos para João, a verdadeira perda. Eis o segundo viés na observação das vítimas. Damos mais valor àquilo que nos conforta do que aquilo que nos dá segurança. Dez entre dez pessoas perguntadas de forma mais adequada sobre o que é mais importante para vítimas de uma tragédia provavelmente diriam moradia, alimentação e cuidados médicos. Pessoas que passaram por tragédias tendem a pensar mais sobre causas, conseqüências com critérios muito pessoais de valoração, não sendo assim os únicos sujeitos adequados a escuta na busca de aproximação com a verdade. Para Maria era seu carro que aliviava a dor. Dor de um dia extenuante de trabalho, dor esta que aumentaria caso lhe restasse apenas a prestação. Para seu João, a solidão, distraída pelos churrascos da vizinhança era o que atenuava sua dor. Assim como nas moradias de João e Maria não costumamos valorizar nosso corpo enquanto não dói… Valorizamos aquilo que este corpo pode nos proporcionar: o prazer, o conforto e o alívio. Evacuar, urinar, embelezar-se, dormir ou gozar é muito mais importante que cuidar, manter ou trabalhar. Este desvio de nossa atenção para um foco secundário não nos permite evoluir. Nos coloca na gestão das urgências e longe de estratégias futuras. Só nos trazem soluções temporárias. Assim como os analgésicos que aliviam a dor, mas não resolvem os problemas de saúde. Conforto e prazer são sinônimos de saúde e para isso basta um comprimido de Viagra…

O viés é erro sistemático, no desenho, na estrutura de uma pesquisa que influencia negativamente ou positivamente resultados afastando-os da verdade. Entrevistadores não isentos, perguntas mal formuladas, informações mal distribuídas ou captadas, com foco não abrangente em um tipo de participante, segmento ou problema, direciona o resultado e a culpa para o governo, o carro da Maria, as chuvas do Rio de Janeiro ou até mesmo para a comunidade do João… Menos para a verdade!

Uma sociedade enviesada para o prazer e o consumo, que tenta afugentar a dor, progride, mas não desenvolve. A diferença é que no progresso as coisas continuam como estão. Os problemas continuam ocorrendo e se repetindo. O que melhora é a velocidade e a quantidade de soluções temporárias. Continuamos a viver em castas com 10% da população controlando 50% da renda deste país. Continuamos a exercer a medicina de robôs, placas e parafusos, comprimidos diários necessários a sobrevivência, sem correções de rumo, sem aprendizado real, sem evolução. Permanecemos num lugar em que os relacionamentos e a eugenia se sobrepõem as competências, ao conhecimento e a democracia de direito. A democracia como direito de todos só é atingido pelos que tem poder para acessar o estado e este, uma vez dominado, apenas cobra dos cidadãos, perdendo sua função de servir.

O salvamento de vítimas com conseqüente “churrascão sem custos”, oferecido pela prefeitura a comunidade do seu João e o carro com motorista cedido à Maria pelo estado, aliviaram a sua dor, conquistaram seus votos e os fizeram esquecer dos problemas. Pergunto: a intervenção rápida do estado resolveu o problema dos deslizamentos em morros e obras levianas? Não. Mas inocentou o algoz…

 

O buraco e os Elos perdidos da saúde

O buraco e os elos perdidos da saúde
Foi em São Paulo próximo a nova estação do metrô, em construção, que se revelaria aquilo que só se guarda em caixinhas bem fechadas. Fruto provavelmente de algum super faturamento, com o rotineiro sub provimento que, de repente, fez-se um buraco em São Paulo.
Abduzidas foram as casas adjacentes a obra e com elas seguiram algumas almas perdidas. Horas depois do “vácuo” e antes do isolamento viam-se pessoas que tentavam encontrar dentre os destroços aquilo que de maior valor possuíam em suas residências. Lembro-me de um senhor a procura de seus documentos, outro desesperado por rolos de filmes, e uma terceira clamando por suas calcinhas… Se há alguma coisa em que somos diferentes nesta vida está em nossa escala de valores. Valores estes pelos quais devemos conduzir nossas vidas. Ao contrário do “hobie” que praticamos na tentativa de relaxar e quebrar a rotina do trabalho, valores são algo que temos de perseguir com a mesma intensidade que os três procuravam por aqueles objetos ou “elos perdidos”.
Investigando um pouco mais descobri que àquele à procura dos documentos era garçom e frequentador da igreja evangélica. Os filmes tratavam-se de conteúdo familiar, aniversários, encontros natalinos… E a danada da dona das calcinhas? Minha imaginação foi longe…
Foi então que com um pouco mais de conversa, o garçom foi me dizendo que não suportava mais seu trabalho, pois era obrigado a vender aquilo que Deus condenava, bebidas alcoólicas! O cineasta revelava saudades da época que sua família se reunia e que por desavenças particulares e até por disputas de herança, após a morte de seus avós, ninguém mais se encontrou nem nos Natais… Naqueles filmes estavam as melhores recordações de sua vida. Perguntei a ele se tinha constituído família, respondeu que sim, mas que lamentava o fato de que não passamos nem 50% de nossas vidas com as pessoas que mais amamos…
O buraco do metrô, assim como a vida, representa as mudanças súbitas que sofremos. Ao roubar moradias acabamos por lamentar mais pela grandiosidade de pequenos objetos desaparecidos. O “funil” orquestrado por homem e natureza deixava o garçom à procura de seu registro perdido, a ilusão de que um documento de plástico o faria viver uma única identidade de valores em casa e no trabalho, sob um único Deus. Deixava também o rapaz só, com a tristeza agudizada pela ausência de amores, a afetividade familiar que possivelmente não conseguiu reeditar.
E a moça das calcinhas, procurava o quê? Foi quando adentrou em meu consultório a maior de todas as estórias, uma “menina” frágil de 45 anos trazida por uma cliente mais antiga. Queixava-se de uma alergia importante vulvar. Curiosamente ao ser examinada vestia calcinhas de algodão com um conhecido personagem infantil. Foi quando investi com humor na descoberta: “preferes o Pateta ao Mickey, por que não escolheste o rato?” A resposta veio na mesma velocidade: “porque o rato já conheci na minha infância, se chamava pai e era aqui que destilava seu beijo de boa noite”.

Inteligência Emocional e a enfermidade

 

Desde que promoveram a supressão de emoções à condição de símbolo de inteligência, que a enfermidade galopa em nome da velha obediência civil.

Sinval era um funcionário exemplar: não faltava, tinha MBA, não recusava serviço, adequadíssimo, a simpatia em pessoa. Tinha tudo para ser o eleito para a vaga de seu superior. E foi. Quanto mais subia de cargo, mais sapos engolia. Começou com uma leve dor de cabeça as segundas feiras. Procurou um neurologista, que com um exame não tardou a lhe dar a boa notícia:

– Não é nada Sinval…

Tomografia, com efeito placebo, sobre a cefaléia do rapaz.

Um mês depois procurou um gastroenterologista por conta de uma queimação no estômago. Gastrite leve, nada que um remedinho não resolvesse. Seis meses bem, foi ao endocrinologista, diagnóstico: obesidade. Dieta verde, dieta animal, academia e terapias…. Cinco idas ao pronto socorro por dores no peito e de barriga, só um mal estar e “virose”. Duas internações por cólica renal, uma resolvido com a explosão da pedra a outra nem cálculo encontraram… Finalmente decidiu procurar um psiquiatra que não tardou a lhe prescrever um antidepressivo. Momento este, o mais feliz da sua vida…

O empresário seguia feliz com seu bom salário e bom plano de saúde. O custo rateado pelos demais funcionários, não chamava a atenção.

O que não foi dito é que tudo isso era parte de um processo que iria resultar em doença de verdade, Sinval estava enfermo.

A enfermidade é um processo patológico presente ou não na doença. Um sofrimento, na forma de um ou mais sintomas. Ausência de bem estar percebido pelo indivíduo afetado ou por outros. Uma anormalidade de função ou comportamento, na qual a pessoa afetada não pode ser responsabilizada.

O progresso do sofrimento sem o rótulo da doença costuma não ter tratamento correto. O diagnóstico biológico, como princípio do tratamento afugenta a cura…

Finalmente para tranqüilidade dos médicos, que agora sabiam o que fazer e parentes do Sinval, que agora tinham pelo que pedir em suas orações, ele fez um aneurisma.

O que levou Sinval a adoecer?

Acreditem! Nosso sistema produtivo e cultural. A cultura da obediência para a sobrevivência, do valor vinculado a bens materiais como sinônimo de sucesso e prestígio social, das metas intangíveis pelo lucro, da dissimilação em nome da tolerância, da supressão emocional com intuito de diminuir a resistência a projetos individuais e organizacionais, da crítica persecutória voltada ao perfeccionismo utópico e da guerra fria pelo não comprometimento pessoal, estão transformando gente em doente. Uma carga que endurecem articulações, enfraquecem mentes e corações, explodem pequenos vasos sanguíneos, queimam estômagos, alteram menstruações, obstruem intestinos e exaurem corpos que doem…

A necessidade de uma visão de bem comum é urgente. O ser humano clama por boas intenções, negociações ganha – ganha, egos diminutos e inteligência criativa. Respeito total ao outro pela compreensão íntima de nossa fragilidade e interdependência. A percepção que o roubo é o único pecado. Em suas diferentes formas e variações transforma a verdadeira inteligência emocional, a do respeito, numa burrice glacial que acelera nossos corpos para o caus.

 

Cidão, Nux vômica

  • Fala, doutor!
  • Mas eu estou aqui para ouvir…

Na verdade, ele foi convidado pela sua esposa à consulta, uma sofisticada mulher que já se tratava comigo. Daí, tal apresentação. Foi quando, em meio à ausência de queixas, começou a contar sua vida:

  • Hoje tenho dinheiro, sou bem-sucedido no meu negócio e querido por meus familiares.
  • Mas, então, por que me procurar?
  • É minha mulher que diz que eu tenho sido grosseiro com ela. Mas também tenho que trabalhar quatro noites seguidas por semana, sem dormir… e por isso estou meio cansado.
  • Algum problema de saúde?

Esta pergunta era uma provocação, pois percebia seu orgulho e onipotência em descrever seus “sucessos”.

  • Não, nenhum, estou ótimo!

A incapacidade ou medo que alguns têm de não perceber ou não revelar limitações é, sem dúvida, um sinal de desequilíbrio, como já dissemos anteriormente, o fato de haver ou não uma doença com lesão tecidual já instalada, de fácil diagnóstico por exames é irrelevante neste momento:

  • E por que você não tira apenas umas férias?
  • Porque é o olho do dono que engorda o gado. Nesse meu negócio, se a gente não está de olho, dá comichão na mão dos outros…

Cansaço também é uma queixa comum a nós, trabalhadores, mas, freqüentemente, quando proferimos esta palavra, ela vem recheada de uma variedade de outros sentimentos como depressão, movida pela desmotivação, incapacidade de exercer a plenitude de sua vocação. Motivando minhas perguntas seguintes:

  • Mas o que você mais deseja na vida?
  • Paz, muita paz, doutor! Mas é o que eu menos consigo.
  • Mas o que você faz para conseguir isso?
  • Trabalho muito, minha vida inteira, sem dar moleza para minha sombra…
  • Mas é esse o seu problema!
  • Qual?
  • Você perdeu a sua sombra. Cresceu tanto que afinou como coqueiro e, por mais que bata sol, pouca sombra produz, sem refrescar ninguém…
  • É… Aquilo que a gente quer é mais caro do que aquilo que a gente tem, me dizia um consultor de empresas, cliente meu…
  • Mas o que você queria ser quando criança?
  • Ah! cantor de ópera…
  • E por que não foi atrás?
  • Faltava “dindim”. A fila é grande, doutor…
  • Quantos?
  • Minha mãe, meus três irmãos, seis sobrinhos, duas tias mais velhas, minhas duas mulheres, mais aquela outra e meus seis filhos, pelos quais sou apaixonado, fora os agregados que…
  • ..
  • Aparecem pedindo ajuda, nós arrumamos serviço para eles e aí acabam virando gente da família…
  • Mas você é novo, forte…

Fiz outra provocação para que ele tivesse um pouco de pena de si e se lançasse em sua defesa.

  • É, mas não é muito esperto o aleijado quebrar suas muletas na cabeça dos seus inimigos…
  • Aleijado?
  • Já não posso nem mais comer minhas lingüicinhas quentes, meu caviar, meu torresminho e freqüentar aquela cozinha mexicana picante que logo passo mal, com vontade de vomitar… Me dá logo uma angústia, pressão no peito que me deixa só e até o sexo sai prejudicado…
  • Sexo?
  • É com nossas mulheres, é claro…
  • A minha também?

Momento de descontração…

  • Que isso doutor, não prejudico ninguém casado! Na sociedade, as irmãs me chamam de Mel… Mas só eu sei a perturbação que passo…
  • Problemas graves, eu imagino!
  • Que nada, isso eu tiro de letra, mas vai que a maçaneta da porta lá de casa não abre ou não acho meu chinelo quando preciso dele, grito com o primeiro que aparece…
  • Também acredito que esteja claro para nós que, na hierarquia dos problemas humanos mais comuns, uma maçaneta emperrada e um chinelo perdido não constituem problema maior que dificuldades de ereção, isto é, uma reação superdimensionada, – provoquei.
  • Minha vontade é de matar quem tirou aquilo do lugar, esbofeteio o primeiro que diz não ser culpado. Posso até ser violento, mas sou justo. Esse negócio de piedade pra mim é só meia justiça. É melhor não me encostar quando estou nervoso…

De repente, decidiu contemporizar, falava como se não ouvisse ou entendesse o que dizia:

  • Mas, na verdade, sou um boêmio, gosto da noite, de um “uisquinho” e de uma boa cantoria. E o que a gente não faz quando a fala é mansa e o pedido é doce… Sou um sentimental! Todo mundo tem defeitos, agüento os dos outros, por que não podem agüentar os meus?

Foi então que decidi encerrar a consulta:

  • Sua sensibilidade é extraordinária e sofre pelo poder das mínimas mudanças que, para você, são como tempestades num copo d’água. Seu senso de justiça supera a dor a que tenha de se submeter. Sua generosidade e benevolência superam o racional. Posso lhe dar um conselho?
  • Claro, doutor!
  • ..
  • Menos o quê?
  • Menos tudo.
  • É… pode ser solução… Já estava querendo mesmo puxar o freio de mão.

Após a prescrição, sentia ainda que faltava algo a ser revelado quanto ao medicamento indicado, e logo ouviria embasbacado.

  • Aliás, o senhor não me disse seu nome!
  • Meus companheiros me chamam de Cidão.
  • Profissão?
  • Chefe da “boca” e do cassino aqui da região. Já vi que o doutor é sangue fino. É da paz… Continua suave que o senhor agora é meu protegido…

 

 

Poder: responsabilidade; desejo: de paz; medicamento: Nux vômica.

O empresário placebo

Estamos todos obsessivamente em busca da verdade, funciona mesmo ou não, dá resultado ou não dá resultado, é bom ou não é… Enquanto desviamos nosso olhar para a pureza destas respostas, a evidência, nós deixamos de ver o óbvio. Exemplificando recentemente Stallone, o astro de Hollywood, entre gravações de seu último longa metragem numa floresta brasileira, ao ser advertido pelo IBAMA pelo barulho produzido nas filmagens, prejudicando então os macacos residentes, indagou: que macacos? O fato é estarrecedor, pois embora não os visse dentre as árvores, a falta da evidência, a fez crer que não existissem… Que me perdoe Descartes em sua célebre frase “penso, logo existo”, mas apropriadamente neste caso: se não vejo, penso que não existe…

Mauro podia ser um destes macacos que Stallone não viu, um brasileiro formado em Oxford, desfilava um currículo invejável: MD, PhD, CEO e VIP voltava ao Brasil. Rapidamente requisitado por empresas, ministrava palestras. Terno impecável e dono de uma requintada sistemática debulhava generosamente sua cartilha para ouvintes que imediatamente respondiam com muita emoção. Os resultados positivos de Mauro para as empresas eram observados imediatamente: melhora no ambiente organizacional, aumento de produtividade e conseqüente lucro financeiro.

Estava tudo indo muito bem até que a assessoria de imprensa de uma das empresas clientes de Mauro disse: esse cara é placebo! Placebo tecnicamente falando é um termo usado para expressar um efeito positivo oriundo de uma “falsa” intervenção. Sem, seu princípio ativo, a substância, o “conhecimento verdadeiro nuclear”, conteúdo ou centro, estas intervenções transformam pelo que está ao redor delas, a casca, seus contextos e suas circunstâncias. Agem por mecanismos de ação que agora a ciência vem revelar:

1)                            Expectativa: é o principal mecanismo de ação destas intervenções. Palestrante famoso, com títulos no exterior, reforçado pela aparência impecável, ambiente suntuoso e atitude generosa deixava os ouvintes excitados com a possibilidade de encontrarem ali a solução para seus problemas, antes mesmo de ouvir o que tinha a dizer.

2)                            Condicionamento: a sistemática requintada que propunha a seus ouvintes requeria esforço e dedicação. O ritual criado para que fosse repetido sempre ao chegar ao escritório tinha a força de uma oração. Relembrava as pessoas de seus objetivos cotidianamente moldando as suas atitudes ao longo do dia.

3)                            Motivação: falar ao coração das pessoas dava mais motivos, energia, àqueles que arduamente garimpavam uma oportunidade. Sem abandonar a razão, esta residia na boa explicação que encontrava, em sua imaginação, para fenômenos comuns. Reforçada ainda pela constante busca por significado ou propósito que retirava de fatos considerado por muitos aleatórios… Tudo isso, conspirava em direção a premiação final… “O topo, o céu”.

Valendo-se da evolução natural creadora e multipartidária que a vida possui, atribuía seu resultado positivo humildemente a Deus. A despeito desta ou daquela empresa mais sisuda ou crítica em busca de um “DNA da verdade”, 50% de resultados positivos não eram de se jogar fora… Desta forma nosso palestrante paulatinamente conquistou simpatizantes, arrebanhou adeptos e criou súditos até constituir a Igreja Universal PARATODOS e se tornar, o pastor Mauro.

P.S.: Stallone continuou sem encontrar evidências de sua existência…