Inteligência Emocional e a enfermidade

 

Desde que promoveram a supressão de emoções à condição de símbolo de inteligência, que a enfermidade galopa em nome da velha obediência civil.

Sinval era um funcionário exemplar: não faltava, tinha MBA, não recusava serviço, adequadíssimo, a simpatia em pessoa. Tinha tudo para ser o eleito para a vaga de seu superior. E foi. Quanto mais subia de cargo, mais sapos engolia. Começou com uma leve dor de cabeça as segundas feiras. Procurou um neurologista, que com um exame não tardou a lhe dar a boa notícia:

– Não é nada Sinval…

Tomografia, com efeito placebo, sobre a cefaléia do rapaz.

Um mês depois procurou um gastroenterologista por conta de uma queimação no estômago. Gastrite leve, nada que um remedinho não resolvesse. Seis meses bem, foi ao endocrinologista, diagnóstico: obesidade. Dieta verde, dieta animal, academia e terapias…. Cinco idas ao pronto socorro por dores no peito e de barriga, só um mal estar e “virose”. Duas internações por cólica renal, uma resolvido com a explosão da pedra a outra nem cálculo encontraram… Finalmente decidiu procurar um psiquiatra que não tardou a lhe prescrever um antidepressivo. Momento este, o mais feliz da sua vida…

O empresário seguia feliz com seu bom salário e bom plano de saúde. O custo rateado pelos demais funcionários, não chamava a atenção.

O que não foi dito é que tudo isso era parte de um processo que iria resultar em doença de verdade, Sinval estava enfermo.

A enfermidade é um processo patológico presente ou não na doença. Um sofrimento, na forma de um ou mais sintomas. Ausência de bem estar percebido pelo indivíduo afetado ou por outros. Uma anormalidade de função ou comportamento, na qual a pessoa afetada não pode ser responsabilizada.

O progresso do sofrimento sem o rótulo da doença costuma não ter tratamento correto. O diagnóstico biológico, como princípio do tratamento afugenta a cura…

Finalmente para tranqüilidade dos médicos, que agora sabiam o que fazer e parentes do Sinval, que agora tinham pelo que pedir em suas orações, ele fez um aneurisma.

O que levou Sinval a adoecer?

Acreditem! Nosso sistema produtivo e cultural. A cultura da obediência para a sobrevivência, do valor vinculado a bens materiais como sinônimo de sucesso e prestígio social, das metas intangíveis pelo lucro, da dissimilação em nome da tolerância, da supressão emocional com intuito de diminuir a resistência a projetos individuais e organizacionais, da crítica persecutória voltada ao perfeccionismo utópico e da guerra fria pelo não comprometimento pessoal, estão transformando gente em doente. Uma carga que endurecem articulações, enfraquecem mentes e corações, explodem pequenos vasos sanguíneos, queimam estômagos, alteram menstruações, obstruem intestinos e exaurem corpos que doem…

A necessidade de uma visão de bem comum é urgente. O ser humano clama por boas intenções, negociações ganha – ganha, egos diminutos e inteligência criativa. Respeito total ao outro pela compreensão íntima de nossa fragilidade e interdependência. A percepção que o roubo é o único pecado. Em suas diferentes formas e variações transforma a verdadeira inteligência emocional, a do respeito, numa burrice glacial que acelera nossos corpos para o caus.