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A cética, o ovo e a galinha… Pulsatilla

Como é que a senhora está Dona Clotilde?

– Bem …

Tomou a medicação?

– Tomei.

E a senhora acha que lhe ajudou a se livrar da estafa?

– Estou mais calma, mas outras coisas aconteceram também…

Que coisas?

– Ahh… Saí de férias, as crianças foram para a casa dos avós e eu e meu marido pudemos passear um pouco… não sei se foi o remédio… mas estou melhor.

É comum nos fazer uma pergunta atrás da outra, para encontrar explicações para determinado fato… E ao tentarmos encontrar aquela explicação que seria a gênese de todo o processo que gerou aquele fato, sempre nos deparamos com a mesma pergunta… O que veio primeiro, o ovo ou a galinha? Isto é um paradigma e só podemos resolver este axioma respondendo: – O ovo e a galinha, ao mesmo tempo. E da mesma forma respondemos a Dona Clotilde:

– A cura vem de várias formas e ao mesmo tempo, somos como um satélite que ao mudar de posição vislumbra um mundo outrora desconhecido que morava ao lado. O eixo de sua vida mudou de direção e o mal moral que lhe envolvia quebrou, permitindo desabrochar o botão que outrora encistado, morria adequada e silenciosamente.

… em outras palavras,

Na verdade, mesmo de férias e sem as crianças que certamente eram responsáveis por extremo cansaço e estresse, poderia ter sofrido pela falta que a necessidade de cuidar lhe obrigava… O marido poderia ter ficado mais no seu pé, pois também estava sem seu vício – o trabalho… e por fim a escassez comum de dinheiro poderia ter impedido o passeio. Passear, é movimento e alimentar – se de vida, do belo, é estar em companhia agradável, exercitar seus desejos sem as influências do poder perverso do ter que… é encontrar a paz, que profundamente inserida em todos nós, resiste aos dogmas morais cuja confusão estabelece que: gente é produto, amar é submeter – se e mercado é vida.

Poder: abandono; desejo: de atenção; medicamento: Pulsatilla

Cidão, Nux vômica

  • Fala, doutor!
  • Mas eu estou aqui para ouvir…

Na verdade, ele foi convidado pela sua esposa à consulta, uma sofisticada mulher que já se tratava comigo. Daí, tal apresentação. Foi quando, em meio à ausência de queixas, começou a contar sua vida:

  • Hoje tenho dinheiro, sou bem-sucedido no meu negócio e querido por meus familiares.
  • Mas, então, por que me procurar?
  • É minha mulher que diz que eu tenho sido grosseiro com ela. Mas também tenho que trabalhar quatro noites seguidas por semana, sem dormir… e por isso estou meio cansado.
  • Algum problema de saúde?

Esta pergunta era uma provocação, pois percebia seu orgulho e onipotência em descrever seus “sucessos”.

  • Não, nenhum, estou ótimo!

A incapacidade ou medo que alguns têm de não perceber ou não revelar limitações é, sem dúvida, um sinal de desequilíbrio, como já dissemos anteriormente, o fato de haver ou não uma doença com lesão tecidual já instalada, de fácil diagnóstico por exames é irrelevante neste momento:

  • E por que você não tira apenas umas férias?
  • Porque é o olho do dono que engorda o gado. Nesse meu negócio, se a gente não está de olho, dá comichão na mão dos outros…

Cansaço também é uma queixa comum a nós, trabalhadores, mas, freqüentemente, quando proferimos esta palavra, ela vem recheada de uma variedade de outros sentimentos como depressão, movida pela desmotivação, incapacidade de exercer a plenitude de sua vocação. Motivando minhas perguntas seguintes:

  • Mas o que você mais deseja na vida?
  • Paz, muita paz, doutor! Mas é o que eu menos consigo.
  • Mas o que você faz para conseguir isso?
  • Trabalho muito, minha vida inteira, sem dar moleza para minha sombra…
  • Mas é esse o seu problema!
  • Qual?
  • Você perdeu a sua sombra. Cresceu tanto que afinou como coqueiro e, por mais que bata sol, pouca sombra produz, sem refrescar ninguém…
  • É… Aquilo que a gente quer é mais caro do que aquilo que a gente tem, me dizia um consultor de empresas, cliente meu…
  • Mas o que você queria ser quando criança?
  • Ah! cantor de ópera…
  • E por que não foi atrás?
  • Faltava “dindim”. A fila é grande, doutor…
  • Quantos?
  • Minha mãe, meus três irmãos, seis sobrinhos, duas tias mais velhas, minhas duas mulheres, mais aquela outra e meus seis filhos, pelos quais sou apaixonado, fora os agregados que…
  • ..
  • Aparecem pedindo ajuda, nós arrumamos serviço para eles e aí acabam virando gente da família…
  • Mas você é novo, forte…

Fiz outra provocação para que ele tivesse um pouco de pena de si e se lançasse em sua defesa.

  • É, mas não é muito esperto o aleijado quebrar suas muletas na cabeça dos seus inimigos…
  • Aleijado?
  • Já não posso nem mais comer minhas lingüicinhas quentes, meu caviar, meu torresminho e freqüentar aquela cozinha mexicana picante que logo passo mal, com vontade de vomitar… Me dá logo uma angústia, pressão no peito que me deixa só e até o sexo sai prejudicado…
  • Sexo?
  • É com nossas mulheres, é claro…
  • A minha também?

Momento de descontração…

  • Que isso doutor, não prejudico ninguém casado! Na sociedade, as irmãs me chamam de Mel… Mas só eu sei a perturbação que passo…
  • Problemas graves, eu imagino!
  • Que nada, isso eu tiro de letra, mas vai que a maçaneta da porta lá de casa não abre ou não acho meu chinelo quando preciso dele, grito com o primeiro que aparece…
  • Também acredito que esteja claro para nós que, na hierarquia dos problemas humanos mais comuns, uma maçaneta emperrada e um chinelo perdido não constituem problema maior que dificuldades de ereção, isto é, uma reação superdimensionada, – provoquei.
  • Minha vontade é de matar quem tirou aquilo do lugar, esbofeteio o primeiro que diz não ser culpado. Posso até ser violento, mas sou justo. Esse negócio de piedade pra mim é só meia justiça. É melhor não me encostar quando estou nervoso…

De repente, decidiu contemporizar, falava como se não ouvisse ou entendesse o que dizia:

  • Mas, na verdade, sou um boêmio, gosto da noite, de um “uisquinho” e de uma boa cantoria. E o que a gente não faz quando a fala é mansa e o pedido é doce… Sou um sentimental! Todo mundo tem defeitos, agüento os dos outros, por que não podem agüentar os meus?

Foi então que decidi encerrar a consulta:

  • Sua sensibilidade é extraordinária e sofre pelo poder das mínimas mudanças que, para você, são como tempestades num copo d’água. Seu senso de justiça supera a dor a que tenha de se submeter. Sua generosidade e benevolência superam o racional. Posso lhe dar um conselho?
  • Claro, doutor!
  • ..
  • Menos o quê?
  • Menos tudo.
  • É… pode ser solução… Já estava querendo mesmo puxar o freio de mão.

Após a prescrição, sentia ainda que faltava algo a ser revelado quanto ao medicamento indicado, e logo ouviria embasbacado.

  • Aliás, o senhor não me disse seu nome!
  • Meus companheiros me chamam de Cidão.
  • Profissão?
  • Chefe da “boca” e do cassino aqui da região. Já vi que o doutor é sangue fino. É da paz… Continua suave que o senhor agora é meu protegido…

 

 

Poder: responsabilidade; desejo: de paz; medicamento: Nux vômica.