Samanta, a maçã e a cura. Probabilidade X Diagnóstico e Terapêutica

Operadora de telemarketing trabalhava 6 hora por dia. Em frente, um computador sempre fora da rede, ao lado, um fone de ouvido que não parava de gritar e atrás, uma gerente que pressionava por produtividade. Nome de feiticeira, corpo exagerado e sensibilidade de menina, Samanta se virava nos trinta… Durante o expediente sentia uma leve dor lombar. Atendida pela turma da ginástica laboral, saiu o primeiro diagnóstico e tratamento. Parecia que os exercícios melhoravam a dor. A procura do que a molestava, o cardiologista fez um diagnóstico cardiológico, o psiquiatra um psiquiátrico e o ginecologista um ginecológico e é claro que o fisiatra recomendou fisioterapia. Hoje em dia ou você acerta na “loteria” quando tem um problema de saúde ou vai sair por aí cheio de diagnósticos e tratamentos pouco eficazes. Não que tenham sido inventados, pois Samanta estava mesmo com a pressão levemente alterada, ansiosa e com um corrimento recidivante. Mas buscar a cura desta paciente tratando sistemas isolados é o mesmo que tentar conduzir uma vaca puxando pelo rabo. A propósito o endocrinologista falou numa tal de síndrome metabólica…

Meses se passaram e apesar da melhora, Samanta ainda não se sentia confortável. Uma boa amiga lhe recomendou uma psicóloga que atribuiu seu mal estar aos conflitos com a mãe, o sexto diagnóstico. Como não podia trocar de mãe e seu plano não reembolsava as consultas para a reposição materna virtual, interrompeu a terapia.

Como é possível tantos diagnósticos para uma só criatura? Talvez a resposta não esteja apenas na empresa do mal, nos doutores do bem ou na paciente problemática. Talvez o problema esteja no processo de diagnose e tratamento.

Imaginemos uma maçã. Isso, por dentro podre, por fora viçosa. Assim estava Samanta. Como chegar ao núcleo podre? Podemos usar uma faca e cortar pedaços, tangentes da maçã, até encontrarmos a zona escura. É ou não semelhante ao que se faz em cirurgias e quimioterapias? Podemos também como nossas avós, descascar lentamente essa maça da periferia para o centro até revelar a podridão. Assim foi feito com Samanta, retirando a casca, bloquearam respostas fisiológicas compensatórias periféricas com anti hipertensivos, ansiolíticos e cremes vaginais. Terceira opção: olhar pacientemente para a maçã até encontrar aquele pontinho mais escuro, a ponta do iceberg, que nos leva ao desenganado, proposto pela psicóloga. Parece óbvio que tanto na primeira quanto na segunda estratégia ficaremos mais cedo ou mais tarde sem a maçã e isto de fato deve ser uma opção terminal. Mas, também ver o pontinho e dizer que o problema está internamente próximo ao caroço, não é terapêutico. Afinal são nos caroços, pai e mãe, que sempre está nossa origem biológica. Identificar e destruir a origem visível não resolve a enfermidade! Ou vocês acreditam que os antibióticos curam 100% das infecções bacterianas? Sem um trabalho continuado de desenssibilização dos “pontinhos obscuros”, reeducação física e mental, não acabamos com o sofrimento. É incrível que ainda nossa modalidade principal de diagnóstico e tratamento são baseados no corte de maçãs…

Vitimados por um viés matemático, nossa visão probabilística direcionada para o diagnóstico e a terapêutica busca o comum, o provável e nos ensina subliminarmente que ao excluirmos um pedaço da maçã aumentamos as chances de nos aproximamos do problema, o que é verdade. Destruímos o fruto, pois o erro é bem vindo no mundo probabilístico, pois aumentam as chances de acerto. Identificamos e tratamos probabilidades! Enfim, a pergunta é inevitável: Este é o melhor meio para decisões individuais em saúde? O que fazer diante deste paradigma?

Nem todos os meios de diagnóstico e tratamento se baseiam em probabilidades! Um olhar para o raro, diferente, incomum, não populacional, porém intenso, por contaminar todo o universo pessoal do enfermo, pode orientar uma terapêutica peculiar e específica para a cura.

Samanta depois de um longo penar encontrou o que precisava e como num feitiço diminuiu a ansiedade, se livrou dos anti hipertensivos e o corrimento desapareceu. A propósito sua mãe continuava a lhe importunar e seu trabalho também…