Pérola, Calcárea carbônica

Disse uma ostra para uma outra visinha:

– Sinto grande dor dentro de mim! É algo pesado e redondo que me deixa deprimida…

A outra sorridente agradecia ao céu e o mar por estar sã e em completa comunhão com a natureza. Foi quando passou um caranguejo que ao ouvir a conversa falou:

– Sim você está boa e sã, mas a dor que sua colega tem, é uma pérola de excessiva beleza…

Uma pérola é um templo construído pela dor em torno de um grão de areia. Todo bom e grande homem que conheci, tinha alguma coisa pequena em sua formação, que o incomodava, mas ao mesmo tempo o impedia da inatividade, loucura ou suicídio. Assim como as tartarugas medindo cada passo de suas vidas, essas pessoas, conheciam melhor a estrada que os velozes coelhos. Porém quando adoecem essas características se transformam em lentidão, fragilidade, deficiência nutricional, mesmo que obesas e quando suas idéias não conseguem se transformar em realidade ficam obsessivos:

– Não consigo pegar um copo d´água que fico com minhas pernas doces…

– Acho que estou ficando louco, há um medo que me possui…
Enquanto suava na cabeça, Pedro dizia sentir um frio que se configurava em suas mãos e pés gelados. Desejava se sentir tão seguro que decidiu trabalhar um tempo como carcereiro voluntário em um presídio e perguntado do porquê de tal atitude, respondeu:

– Lá eu sei o que fazer para que nada me aconteça… É diferente de você estar na rua se escondendo atrás de uma bala perdida, que pode te achar…

Obstinado, sofria pelo poder do inusitado, da surpresa, daquilo que o movimento das marés podem nos trazer que não esperamos. E no seu caso esperava sempre algo ruim. Desejava controlar seu futuro e a cada dia que passava se dedicava mais aos negócios. Precavido em demasia já havia tomado um “sem número” de remédios e chegou absolutamente indiferente quando do falecimento de seu filho, que relatava como se fossem coisas da vida…

– Tudo bem, Deus quis assim…

Lembro-me depois de iniciado o tratamento, que queixava-se de piora geral, lembranças do seu pequeno o faziam chorar:

– Minha gota que já havia sarado voltou…

– No outro dia acordei com uma batedeira no peito danada, fui até ao cardiologista, mas ele disse que não era nada os exames estavam todos normais…

– Dr não tenho nem mais vontade de ficar trabalhando, o que é que vai ser de mim…

Ao contrário do que Pedro poderia pensar, o fato de estar sentindo novamente era um sinal flagrante de melhora, estava reconstituindo seus nervos, sua sensibilidade. O que pretendia certamente era também controla-los, mas isto sem dúvida não é saúde.
A fé dele foi fundamental para persistir no tratamento, pois aos poucos suas preocupações com o futuro foram sumindo, sua atenção ao presente aumentando, o prazer pelas pequenas coisas retornando até perceber que já não mais carregava aquela concha, um fardo certamente maior que a proteção que ela mesma poderia lhe dar.

Poder: surpresa; desejo: saúde e bem-estar; medicamento: Calcária carbônica.