Evidência, como encontrar agulhas num palheiro.

agulha no palheiro

O que é evidência? Não evidência significa inexistência? Como podemos encontrar evidência? Quando podemos dizer que temos evidência? Estas são algumas perguntas e caminhos que tentaremos eluscidar nesse texto para que todo iniciante possa fazer sua pesquisa.

Primeiramente vamos a questão chave da sua pesquisa a pergunta que não quer se calar, isso orientará o objetivo de seu trabalho. Segundo é a pesquisa bibliográfica que deverá fazer antes de começar a definir sua metodologia de trabalho para melhor entender do assunto.

Vamos tentar resumir essa experiência com a seguinte imagem. Como encontrar agulhas num palheiro? Você pode tentar separar as palhas até encontrá-las, mas isso certamente demoraria muito e dependendo do tamanho do palheiro pode ser uma tarefa impossível. Você então pode pegar uma pequena parte do palheiro para catar, mais isso não garante que existam agulhas naquele pedaço escolhido. Sendo assim vem a terceira questão, calcular o tamanho mínimo para a amostra. Quanto devemos pegar de palhas para que com um grau bem aproximado de certeza possamos dizer que ali devem ter agulhas. O conceito depende simplesmente do sucesso que estudos anteriores tiveram ao procurar agulhas preferencialmente ou qualquer outro objeto similar no palheiro. Estamos dizendo que o palheiro é a população e as agulhas são os resultados esperados.

Mas conseguiríamos encontrar agulhas e sairíamos mostrando para todo mundo? Não. Não necessitaríamos de pesquisa para o óbvio! No máximo observaríamos agulhadas ou algo que se pareceria com agulhas, mas isso ainda não é evidência. Repetindo, olhar as palhas e catar as agulhas resolveriam a questão? Outro problema, e se não estivessem visíveis? Afinal são agulhas num palheiro. Poderíamos então recorrer a diferentes ferramentas para buscar evidência sobre a existência de agulhas. Sabendo, daí a importância de se conhecer o assunto, que as agulhas brilham sob a incidência da luz poderíamos visualizá-las, além do que elas também espetam ao tato, portanto apalparíamos a palha. Estamos falando agora de intervenções como a luz e o palpar e de formas de mensuração como a visão e o tato, intimamente ligadas ao objetivo e questão do estudo: existem agulhas sobre as palhas daquele celeiro?

Ao falarmos em celeiro incluímos uma parte da população de palhas que estão em determinado lugar com determinadas características. Poderíamos pegar qualquer palha ou entrar em qualquer celeiro? Ou devemos escolher aquele tipo em que seja mais fácil a identificação de agulhas? Obviamente que sim à segunda pergunta, poderíamos também excluir tipos de palhas e celeiros que podem esconder ou confundir a identificação de agulhas que de alguma forma interfeririam no resultado. Como por exemplo, aquelas que estão impregnados de outros metais ou espinhos que possam ser identificados pela luz ou pelo tato como agulhas e não ser, quanto maior a “pureza” da amostra melhor. São os critérios de inclusão e exclusão do estudo respectivamente. Assim como aquelas palhas que trancadas não possibilitam acesso à investigação, a importância ética do consentimento livre e esclarecido. O caminho é sempre o mais fácil e simples, não o difícil. Uma pesquisa não abraça todas as questões e não dá prêmio Nobel a ninguém! Somente uma obra é capaz de conferir esse título.

Mas como usar essas ferramentas na identificação de agulhas? Mesmo escolhendo bem a amostra com os critérios acima, não podemos simplesmente sair por aí tateando o palheiro ou iluminá-lo e achar que tudo que espeta ou brilha são agulhas. Simplesmente porque “as coisas ou são o que parecem ser, não são e nem parecem ser e mais ainda são e não parecem ser ou não são, mas parecem ser” (Epictetus, século II d.C.). Sendo assim para nos aproximarmos da verdade temos que fazer testes que contemplem essas 4 possibilidades de diagnóstico. Esta é uma das razões por que separamos nossos estudos sobre a amostra do palheiro em pelo menos 2 grupos X 2 resultados possíveis. Em um grupo interveríamos de modo a jogar a luz e palpar a palha na expectativa que as agulhas espetem ou brilhem e no outro grupo fingiríamos intervenção, na esperança que neste grupo observaríamos menos picadas ou brilhos que no primeiro. Fingir é importante, pois assim atribuiríamos o aparecimento das agulhas as técnicas de iluminação e tato, afinal pode acontecer que ao passarmos a lanterna não iluminada sobre o palheiro o magnetismo da mesma atraísse as agulhas. Encontrar pontos brilhosos ou agulhadas dessa forma não seríam atribuídos à luz ou ao palpar (à intervenção estudada) e esse teria uma baixa validade interna, a capacidade da aferição de agulhas pela luz e o palpar seria baixa. A identificação dessas agulhadas no grupo controle anularia os resultados do trabalho, sem evidência, o que não quer dizer que não existam. Estamos falando de estudos controlados onde um grupo é o controle (“intervenção fingida”), do outro, o grupo teste (intervenção desejada). Estamos falando também, no caso do magnetismo da lanterna, se conhecido no momento da pesquisa de um viés, um erro no desenho do estudo e se não conhecido de uma provável variável de confusão, pois não permitirá atribuir a luz o efeito de se encontrar agulhas. A luz ou o palpar da palha poderia ser o medicamento homeopático. As agulhadas podem ser um resultado positivo à saúde do paciente. E a lanterna de plástico (sem magnetismo) e com a luz desligada, o placebo. O placebo do palpar poderia ser um braço mecânico sem sensibilidade ao tato.

Eis que surge uma nova questão. E se o pesquisador ou interventor ou as pessoas que medem o experimento estiverem muito desejosas de observarem resultados positivos e por isso, mesmo inconscientemente, escolhessem amostras de palhas mais reluzentes para o grupo teste (com a intervenção real), ou mesmo escolhessem palhas mais macias cuja sensação de espetar seria menos repetitiva no grupo controle (aquele em que fingimos a intervenção)? E se aqueles que medem os resultados ou fazem a pesquisa soubessem qual é o grupo teste e isso os influenciassem a notar mais brilhos ou espetadelas? Estamos falando aqui da necessidade das amostras de palha serem escolhida aleatoriamente e de estudos cegos onde todas as pessoas participantes não sabem qual é o grupo aonde há intervenção real. A aleatoridade na amostra define o que chamamos de estudo epidemiológico tipo ensaio clínico. Aqueles que não tem sua amostra aleatória chamamos de estudos tipo observacionais. Os ensaios clínicos são os únicos que de fato são capazes de mostrar evidências de que alguma intervenção funciona. Já os observacionais sinalizam características/ variáveis diferentes das amostras que mais propiciam a identificação de agulhas. É óbvio também que assim como numa corrida de cavalos todos os grupos devem largar em condições idênticas, com as mesmas chances de ganhar a prova, deixando a diferenciação apenas para as características dos animais. Logo a pista de corrida, a distância a percorrer entre os concorrentes… deve ser igual, grupos homogênios.

E quanto à pergunta de quando podemos dizer que há evidência? É simples notar que ao termos 2 grupos X 2 resultados possíveis: positivo e negativo sendo nossa hipótese verdadeira chegaríamos a equação oriunda de Epictetus (de 4 diagnósticos possíveis; 2 X 2 = 4) onde no grupo teste um resultado positivo representam coisas que são e parecem ser, no grupo controle um resultado negativo significa que as coisas não são e não parecem ser, porém um resultado negativo no grupo teste as coisas são, mas não parecem ser e no grupo controle um resultado positivo as coisas não são mas parecem ser. Sendo assim se tivermos mais resultados positivos no grupo teste e mais resultados negativos no controle do que negativos no teste e positivos no controle, nos aproximaríamos mais da verdade de que existem agulhas no palheiro. E isso é evidência.