Germinando

Os germes “modernos” são o abandono, a tristeza, a frustração, a menos valia, a indignação, a injustiça, a desconfiança, o ódio. E, como já vimos, contaminam não pelo ar, mas pelo olhar, através de maus relacionamentos. E o que é um relacionamento mal estruturado? É aquele que atende basicamente mais um indivíduo que outro. E por que são estruturados desta forma? Para que haja uma estrutura desta natureza, é necessário que se dê diferentes pesos aos objetos do desejo. Dinheiro e poder valem mais que tempo e trabalho – inversão de valores – o resultado é mais importante que os meios para consegui-los. Comida virou ponto de referência para extração de energia na sociedade urbana, esquecendo-nos que os relacionamentos também são geradores de energia. Alguns valores urbanos como a solidariedade, são esquecidos, talvez por uma estrutura de transportes, médica e educacional farta. Valores são perseguidos por nós incondicionalmente, sem que observemos nossos verdadeiros desejos. Sofremos todos, poderosos e oprimidos, possuidores e despossuidores. Carregarmos o peso de grandes decisões, adoecermos pelo esforço, desenvolvendo estados de fadiga absoluta, de ansiedade, de câimbras, de sudorese profusa, sem conseguirmos, nem mesmo, manter nossa concentração no trabalho. Obesos que não conseguem reter energia pelo afeto, com uma demanda excessiva, buscam incansavelmente fontes de energia em seus relacionamentos, até esgotarem o amor do outro.

Sentimentos transformam-se em doença crônica, encapsulados numa redoma, sem germinar. Sem serem exercitados no dia-a-dia ou esgotados até o último suspiro, desenvolvem uma atmosfera que apodrece ao longo do tempo, dando espaço para o surgimento de moléstias que agridem o próprio corpo.