Elemento básico, Natrum muriaticum

Estava deprimido, triste e melancólico. Era 10 h da manhã… De um lado o deserto do outro o mar. Minha boca estava seca, salgada e com rachaduras nos cantos. Meus calos e calcanhares cortados, meu corpo magro e fatigado eram o retrato daquele amor perdido que tanto castigara meu coração que agora palpitava como se quisesse sobreviver. Confortava-me com a solidão e a dor latente na cabeça como se mil martelos pequenos me golpeassem, debruçavam – me sobre meu corpo. Quando estava quase tocando o chão com a minha testa pude vislumbrar um ponto brilhante. Minha vista fraca, olhos irritados e rochos permitiram – me ainda focar o objeto e como num suspiro antes mesmo de desmaiar consegui me esticar, pegar a pedra e curiosamente coloca – la na boca e experimentar.

Ao acordar já era noite e o gosto de sal deixado pela pedrinha entre minha saliva, recordou – me aquele último movimento antes de perder os sentidos. Aos poucos minha mente acordava e com ela algumas repostas surgiam. Costumava perguntar:

Por que as coisas não davam certo para mim?

Cheguei a fazer até um curso de Marketing, e me convenci que a saída era os cinco P: preço, prazo, praça, produto e prestígio, mas:

– “Puts q’uil paril” o sexto e sétimo“P”, sempre me atrapalhava e era “prejuízo” na certa.

– Paiê… Socorro!, Na tentativa de que o nono “P” me ajudasse, gritei… Foi quando ouvi uma vós lá do fundo conversando comigo:

– O que você procurava?

– Ah! Eu queria ser feliz, alegre, ter um monte de amigos e alguém que me amasse de verdade…

– E porque você sempre procurou isto no claustro, na intemperança, sem saborear o pouco que podia conter uma mastigação?

– Como assim?

– Se abster de conviver, de riscos e da dor, é não experimentar a própria vida. Se isolar é sucumbir ao poder do silêncio é tentar modificar pela ausência, pela dor que sua falta pode causar ao outro, mas que acaba por arrastar você mesmo… Olhava para você morrendo de sede ao lado dessa imensidão de água.

– Mas não podia beber era água salgada…

– Por isso não és feliz… o que tinhas em mãos não era água mais sal…

– Quer dizer então que foi você que me salvou?

– Tinhas milhões de pedrinhas ao seu redor capaz de reorganizar todos os seus fluidos, mas querias outro… “Proibidos a sua natureza”… Foi apenas naquele instante em que nada mais podias pensar, que libertastes sua mente, que eu pude lhe aconselhar a um primeiro gesto… O de colocar o sal sob sua alma…

– Como assim primeiro gesto?

– Gesto é um movimento que se realiza para elevação da alma, e até aquele momento você só queria morrer, paralisar…

– Obrigado Senhor por me salvar!

– Engano seu, não sou um “Senhor”, sou a vida e esta não salva ninguém, apenas lhe dá a semente (o sal), para que você possa plantar… reorganizar-se e construir sua felicidade…

Poder: claustro; desejo: contato; medicamento: Natrum muriaticum.