Do mal moral

Como os dicionários usuais definem, moral é um conjunto de regras consideradas válidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa.

Conceitos morais vividos rigidamente por um longo período de tempo nos faz adoecer. Então, por que, então, criamos a moral?

Em nossa visão elementar, a moral, as regras, os limites são criados, em primeiro lugar, para nos proteger de nós mesmos, afinal, somente homens e baleias orcas, enquanto espécies, não possuem predadores naturais neste planeta, deixando o legado do medo e da insegurança para nossos pares, ou seja, “o inferno é o outro”. Em segundo lugar, o instinto nos une, agrupa-nos para que consigamos obter algo que desejamos e que não conseguimos sozinhos. Então, criamos limites (regras) para estarmos o mais focados possível nesse objetivo. Esse conceito organizacional, que se exterioriza como regra, também nos serve para não perdermos tempo repetindo serviços que outros pares dessa comunidade realizam. Assim é a lógica das organizações sociais e governamentais: família e empresa.

Em tudo que fazemos precisamos de nossa libido, fonte maior de nossa força vital, capaz de manter nosso corpo organizado de forma a não adoecer. No entanto, os valores que regem o ser humano como indivíduo são diferentes. Assim, diferentes idéias estimulam sentimentos diferentes, mobilizando diferentes pessoas, em diferentes momentos, para diferentes objetivos, devendo utilizar-se de regras diferentes – mas, infelizmente, isso ocorre quase sempre na mesma organização conceitual. O mal moral que adoece as pessoas é a vitória do plano estratégico das instituições sobre os desejos particulares de cada indivíduo. Regras consideradas válidas para todos atendem ao plano de alguns do grupo, mas frustram a particularidade da maioria, ou seja, a intimidade dos nossos desejos. A cultura de uma organização sem arte é a moral que permanece por muito tempo e acaba por implodir seus indivíduos em constante transformação, enrijecendo-os com artrites e artroses. Cotidiano sem sincronia com nossos desejos íntimos é a moral que criamos para nós mesmos e que exerce pressão de ruptura em nosso organismo, tornando-nos hipertensos em primeira instância (fase reacional fisiológica) para, em seguida, lesar nossos órgãos de forma irreversível.

Viver em harmonia com a comunidade é exercer papel complementar ao outro, afugentando assim o medo básico que seu par tem de ser devorado, superado ou vencido, abandonando a tensão ou o poder que emperra, imobiliza, afasta e corrompe os organismos físicos e que se traduzem, mais à frente, em doença. É natural e permanente exercer uma função complementar, que se soma à função do outro e, logo, deve ser perseguido. Essa postura no mercado e na vida é estratégica e tem poder mobilizador (saudável, dinâmico e não estático) que aproximam e revolucionam as culturas e a saúde das instituições.